Capítulo 06
Elementos de uma narrativa
Pois bem, enfim chegamos ao
tão esperado momento onde iremos começar a trabalhar os elementos que são
necessários para uma narrativa. E deste modo estruturar uma narrativa a fim de
formular um livro. Estaremos apresentando exemplos de narrativas afim do leitor
adequar se a sua própria narrativa, e aprender técnicas narrativas diversas.
Lembrando que tudo o que
foi apresentado até aqui é importante para estruturar a sua narrativa. Você
aprendeu um pouquinho sobre teoria literária. Conceitos de verossimilhança,
catarse, aprendeu também os gêneros textuais, e observou o gênero narrativo e
as suas vertentes. Foi apresentado o Romance, como se formou e exemplo de
características foram repassados neste guia prático.
Agora vamos aprender sobre
os elementos da narrativa:
-Narrador
-Personagem
-Enredo (ação)
-Tempo
-Espaço
A partir de agora vamos
trabalhar com cada elemento em separado para melhor compreensão.
-Narrador:
O narrador é o responsável
por narrar a história. Pode ser apresentado de diversas formas de acordo com as
características do universo narrado. Vamos a partir de então apresentar a
você formas narrativas para ambientalizar a este universo narrativo.
O
narrador onisciente intruso: Ele tem a liberdade de
narrar à vontade, adotando um ponto de vista divino, para além dos limites de
tempo e de espaço. Um eu que tudo sabe, tudo segue, analisa, comenta, critica,
sem neutralidade. Esse tipo de narrador não nos deixa esquecer de que estamos
diante de uma ficção. Machado de Assis,
por exemplo utilizou desta técnica no seu livro Quincas Borba. Na literatura
mundial Tolstoi em Guerra e Paz faz digressões em capítulos inteiros como se
fossem ensaios a parte. Ele tem a liberdade de narrar do seu modo, do seu
jeito de pensar, ele valoriza as suas ideias e as suas percepções. Ele sabe de
tudo, comenta, faz críticas, dribla o leitor a todo instante. Ele tenta de
alguma forma assumir uma postura divina, interferindo de modo direto no modo de
ver a história.
O
narrador Neutro: Parecido com o Narrador onisciente
intruso, relata os fatos e descreve as personagens, mas não influencia o leitor com
observações ou opiniões a respeito das personagens. Fala somente dos fatos
indispensáveis para a boa compreensão da narrativa. Na literatura brasileira
observa-se esta característica nos livros de José de Alencar, Senhora e
Iracema.
O
narrador Protagonista: Se você já leu Grande
Sertão Veredas observará em Ribaldo este tipo de narrativa. O narrador é a
personagem principal que conta a história, mas não tem conhecimento dos
pensamentos das outras personagens. Narra de um ponto fixo seguindo as suas perspectivas.
Outro romance Brasileiro famoso por esse tipo de narrativa é: - Dom Casmurro de
Machado de Assis.A indefinição característica deste tipo de narrador transporta
ao leitor supor e nunca ter certeza, no romance Dom existe a eterna dúvida
impregnada pelo autor se a mocinha (Capitu) traiu ou não Bentinho (Dom
Casmurro).
O
Narrador Onisciente Seletiva Múltipla: Não há propriamente
narrador. A história vem diretamente, através da mente das personagens, das
impressões que fatos e pessoas deixam nelas. Há um predomínio quase absoluto da
cena. Difere da onisciência neutra porque agora o autor traduz os pensamentos,
percepções e sentimentos, filtrados pela mente das personagens, detalhadamente,
enquanto o narrador o narrador onisciente os resume depois de terem ocorrido. O
que predomina no caso da onisciência múltipla, como no caso da onisciência seletiva
que vem logo a seguir, é o discurso indireto livre, enquanto na onisciência
neutra o predomínio é do estilo indireto. Os canais de informação e os ângulos
de visão podem ser vários, neste caso. Um bom exemplo é Vidas Secas, de
Graciliano Ramos, que começa com Fabiano e sua família (mulher, dois filhos e
uma cachorra), fugindo da seca do Nordeste, em busca de uma terra menos
inóspita. Depois de uma longa caminhada, sob o sol escaldante, encontram uma
fazenda para trabalhar, e, a partir daí,o romance passa a enfocar
sucessivamente cada personagem, dedicando-lhes alternadamente os capítulos em
que nos são transmitidos seus pensamentos e sentimentos. Sonhos, frustrações,
medos e lembranças aparecerem de forma um tanto fragmentária, através do
indireto livre.
O
Narrador, Onisciência Seletiva: Esta é uma categoria
semelhante à anterior, apenas trata-se de uma só personagem e não de muitas. É,
como no caso do narrador-protagonista, a limitação a um centro fixo. O ângulo é
central, e os canais são limitados aos sentimentos, pensamentos e percepções da
personagem central, sendo mostrados diretamente. Virgínia Woolf e, entre nós,
Clarice Lispector são duas mestras no estilo indireto livre e na onisciência
seletiva, com todas aquelas mulheres com quem a narração se identifica, a quem
perscruta nos mínimos detalhes e de onde o mundo é perscrutado. Pense-se em
Virgínia, de Mrs. Dalloway, ou em Clarice, já no seu primeiro romance, Perto do
coração selvagem, em boa parte dominado pela mente da personagem central, Joana.
O
Narrador Modo Dramático: Significações a partir dos
movimentos e palavras das personagens. O ângulo é frontal e fixo, e a distância
entra a história e o leitor, pequena, já que o texto se faz por uma sucessão de
cenas. Os exemplos de Friedman são The
Awkward Age, de Henry James, e Hemingway, em alguns contos. Na ficção de
James, como diz Lubbock, essa foi a experiência talvez mais radical em matéria
de tratamento dramático; trata-se de uma técnica dificilmente sustentável em
textos longos. Talvez por isso mesmo seja nos contos que ela funcione melhor.
E, neles, Hemingway continua sendo o grande exemplo, assim como no Brasil, o
nosso contemporâneo, Luiz Vilela, em livros como Tremor
de terra, onde há contos inteirinhos em diálogo.
O
narrador Câmera: A última categoria de Friedman
significa o máximo em matéria de "exclusão do autor". Esta categoria
serve àquelas narrativas que tentam transmitir flashes da realidade como se
apanhados por uma câmera, arbitrária e mecanicamente. No exemplo de Friedman,
de Goodbye to Berlin,
romance-reportagem de Isherwood (1945), o próprio narrador, desde o início, se
define como tal: "Eu sou uma câmera". O nome dessa categoria me
parece um tanto impróprio. A câmara não é neutra. No cinema não há um registro
sem controle, mas, pelo contrário, existe alguém por trás dela que seleciona e
combina, pela montagem, as imagens a mostrar. E, também, através da câmera
cinematográfica, podemos ter um ponto de vista onisciente, dominando tudo, ou o
ponto de vista centrado numa ou várias personagens. O que pode acontecer
é que se queira dar a impressão de neutralidade. Cristopher Isherwood, que é um
repórter, com minúcia e exatidão, as suas experiências de Berlim, mas são
as suas impressões da cidade. A exatidão não apaga, embora possa disfarçar a
subjetividade.
Fonte Consultada: O texto
de Classificação da Narrativa foi formulado por Ligia Chiappini Moraes
Leite a partir dos Estudos de Norma Friedmam. Estou publicando simultaneamente
em um blog [veja link externo, caso queira conhecer as fontes de pesquisa].
*Gostou? Giló ein? Mas é
necessário passar e dar um lida nesta classificação. Existem algumas leituras
quase que obrigatórias para aprender melhor sobre narrativa. Deixei citado nas
narrativas. É interessante a quem quer aperfeiçoar-se na narrativa, passear e
ler o estilo empregado pelos autores em suas narrativas.
Por exemplo, a narrativa
que você quer impregnar no seu livro lembra o narrador Protagonista? Nada
melhor do que passear por Dom Casmurro e observar como Machado escreve.
Estes dias, fiz um trabalho
sobre a narrativa onisciência múltipla, no livro O cortiço, e o que esta
apresentado aqui foi bem o que o autor apresentava na narrativa.
É importante a quem quer um
progresso constante aperfeiçoar a sua narrativa. Aprender formas de narrativa ajuda
e muito neste processo.
Finalizamos o elemento
narrativo narrador neste encontro propositalmente foi apresentado um conteúdo
avançado neste momento do guia para ser uma referencia offline a você que
deseja aprimorar seus textos. Se precisas aperfeiçoar a sua leitura, que tal
começar pelos autores citados nestas narrativas? Você engrandeceria seu leque
de possibilidades se assimilasse tais tipos de narrativas pense nisto.
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