14.8.17

Guia prático para escrever um livro [Capítulo 07]

Capítulo 07
Tipos de discursos

Uma maneira usual de escrever uma narrativa é utilizar o discurso direto e o discurso indireto.
O narrador para relatar ao leitor a fala dos personagens, pode servir-se destes dois discursos, Vamos a eles?
Discurso direto:
-O narrador relata a fala do personagem de tal modo que o leitor ouve exatamente as mesmas palavras que o personagem proferiu.
Maria sussurrou: "Paulo passe-me a bula".
Então:
O discurso direto é a reprodução de maneira direta da fala dos personagens, ou seja, a reprodução integral e literal, introduzida por travessão. Nessa estrutura, as falas são acompanhadas por um verbo declarativo, seguido de dois pontos e travessão. Sintaticamente, o conteúdo da fala funciona sempre como objeto direto do verbo declarativo.O discurso é direto quando são as personagens que falam. O narrador, interrompendo a narrativa, põe-nas em cena e cede-lhes a palavra.
Exemplo:-Por que veio tão tarde? perguntou Sofia, logo que apareceu à porta do jardim, em Santa Teresa.
Discurso Direto: Neste tipo de discurso as personagens ganham voz. É o que ocorre normalmente em diálogos. Isso permite que traços da fala e da personalidade das personagens sejam destacados e expostos no texto. O discurso direto reproduz fielmente as falas das personagens. Verbos como dizer, falar, perguntar, entre outros, servem para que as falas das personagens sejam introduzidas e elas ganhem vida, como em uma peça teatral.
Travessões, dois pontos, aspas e exclamações são muito comuns durante a reprodução das falas.
Discurso indireto:
O narrador descreve para o leitor o que o personagem disse:
-Maria sussurrou para Paulo que lhe passasse a bula.
Mas existe outra situação, bastante usual na atual literatura, a não utilização de sinais gráficos como travessão ou aspas:
Ele pediu: João, venha cá.
Então:
Discurso Indireto é definido como o registro da fala da personagem sob influência por parte do narrador. Nesse tipo de discurso, os tempos verbais são modificados para que haja entendimento quanto à pessoa que fala. Além disso, costuma-se citar o nome de quem proferiu a fala ou fazer algum tipo de referência. Neste tipo de discurso narrativo o narrador interfere na fala da personagem. Este conta aos leitores o que a personagem disse, no entanto o faz na 3ª pessoa. As palavras da personagem não são reproduzidas, e sim "traduzidas" na linguagem do narrador. Também é sem travessão. No fundo são apenas a junção dos dois modos verbais. A pessoa não pergunta de verdade, é o narrador que faz a pergunta com o nome do personagem.
Vamos conhecer o discurso indireto livre:
Muitos narradores na atual literatura utilizam o discurso indireto livre, e estabelece um elo psicológico entre narrador e personagem, há então um entrelaçamento entre o narrador e o personagem sendo que por vezes não é possível definir de quem pertence as palavras e pensamentos eles são do narrador? Do personagem? Ou de ambos.
Na novela Uma vida em segredo. Autran Dourado escreveu:
"Foram muito duros os primeiros dias na casa de primo Conrado. Se pudesse, se não o olhasse com tanto medo, se tivesse coragem de enfrenta-lo, dirigir-lhe uma palavra, se não..."
Quem descreve estes pensamentos? Narrador? Personagem? Ambos?
Esta é uma boa demonstração do discurso indireto livre.
Mas é importante observar que o discurso direto e indireto é o ato de fala atribuída a um personagem.
-Jamais confundi-lo com o discurso do narrador, de quem conta a história.
Então:
Discurso indireto livre é uma modalidade de técnica narrativa, resultante da mistura dos discursos direto e indireto, sendo um processo de grande efeito estilístico.
Por meio dele, o narrador pode não apenas reproduzir indiretamente as falas dos personagens, mas também o que eles não dizem como pensamentos e sentimentos, além de poder incluir ideias do próprio narrador, trazendo ambiguidade e riqueza de sentido ao texto. Assim, o discurso indireto livre corresponde à fala ou ao monólogo interior dos personagens, porém expresso pelo narrador (característica do discurso indireto) e reproduzidos na forma como os personagens diriam (característica do discurso direto), podendo ou não conter juízo do narrador. Ocorre quando a fala do personagem se confunde com a narração, tanto no conteúdo, quanto na forma. Por isso, o comentário do personagem surge sem secção, isto é, sem estar claramente separado das palavras do narrador, ao contrário do que ocorre no discurso direto, por exemplo, no qual se utilizam travessão, dois pontos, aspas etc. Comumente, o discurso indireto livre aparece entremeado com o discurso indireto.
As orações do discurso indireto livre são, em regra, independentes, podendo ter ou não verbos bonitos de elocução (também chamados de verbos dicendi). Quando os possui, fica mais nítido que a frase não é do narrador, mas sim do personagem. Em geral, ele ocorre com foco narrativo em terceira pessoa, mas é possível o uso da primeira. Esse discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e ritmo que confere ao texto.
E como se qualificam os tipos de Narradores?
Nosso guia já conversou sobre os tipos de narradores, agora voltaremos a ele com exemplos práticos, para melhor assimilação:
O narrador é a voz que conta a história pode ser classificado de maneira geral em três posições diferentes:
Na avenida, Paula passou por mim e fez questão de demonstrar entusiasmo, pelo tom com que me cumprimentou.
O narrador se coloca dentro da história, é um dos personagens, porque usa a primeira pessoa "mim", "me". Qualquer referência à primeira pessoa (eu, nós, meu, nosso...) mostra ao leitor que o narrador está dentro da história, que é uma das personagens (principal ou secundária]. Chama-se narrador-personagem, narrador-participante, ponto de vista interno ou narrador subjetivo.
Paula atravessava a rua pensando em encontrar-se com Joaquim.
Neste exemplo, o narrador coloca-se fora da história; ele não é uma das personagens, mas tem a capacidade de enxergar o que passa dentro da personagem, no seu espaço interno, íntimo, psicológico ou sentimental... É chamado de narrador onisciente (que sabe tudo).
Paula atravessava a rua e parecia preocupada com alguma coisa. Talvez estivesse pensando em procurar Joaquim.
Neste exemplo, o narrador também se coloca fora da história, também não é uma das personagens, mas é diferente do narrador que escreveu o exemplo 2. Aqui, ele não sabe o que acontece no mundo interno da personagem, o que se deduz do fato de ter dito "parecia preocupada" e "talvez estivesse pensando". Trata-se do narrador observador.


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